Drenagem Urbana: Como desafogar as cidades (26/Abr, 8:30)
Resiliência é uma palavra que consta do vocabulário básico de todo estudante de ecologia, e que precisa urgentemente fazer parte do dia a dia de todos, em especial dos técnicos e gestores públicos responsáveis pelos recursos hídricos das centenas de municípios de nosso país. O termo, em ecologia, se refere à capacidade de um sistema voltar ao equilíbrio após uma perturbação. Neste sentido, e em respeito à crise hídrica que atinge o sudeste há anos, percebemos a enorme fragilidade dos sistemas de saneamento, ou sua total falta de resiliência, principalmente porque são tratados de forma isolada, e numa abordagem centralizada. Isolada porque separam-se a gestão dos serviços de abastecimento de água, tratamento de águas servidas, manejo de águas pluviais (comumente referido como “drenagem”), e de gestão dos resíduos sólidos, todos integrantes de uma mesma dinâmica. A “drenagem”, termo usado erroneamente para referenciar o manejo de água de chuva na cidade, também faz parte deste mesma visão equivocada de recorrer a grandes obras e soluções centralizadas para solução do problema das enchentes. Ora, se drenagem é a intervenção feita em um determinado ambiente para remover a água da forma mais eficiente e rápida possível, não é de se estranhar o fato de termos enchentes em pleno período de seca, afinal, isso acaba por conduzir toda água coletada (sem a menor consideração pela presença de poluentes diversos coletados em seu percurso), aos rios que desaguam rapidamente os volumes coletados nos fundos de vale. Além das enchentes a drenagem pura e simples, adotada como norma para a gestão de aguá de chuva, causa a poluição dos rios e demais corpos d’agua, e a “desidratação” das áreas atendidas, removendo água que poderia de outra forma ser retida e eventualmente infiltrada em estruturas apropriadas, fortalecendo a realização dos serviços ecossistêmicos que poderiam ser realizados mesmo em grandes núcleos urbanos como São Paulo. E neste enfoque que ofereceremos a palestra “Técnicas naturalísticas de drenagem urbana”, parte integrante do seminário realizado pela divisão de Saneamento da FIESP, nesta próxima terça a partir das 8:30, juntamente aos grandes Mestres Luiz Orsini, Renato Zuccolo, e Stela Goldenstein (Associação Águas Claras do Rio Pinheiros).
A entrada é gratuita!
Mais informações disponíveis em http://www.fiesp.com.br/agenda/workshop-de-infraestrutura-saneamento-drenagem-urbana-como-desafogar-as-cidades/
O arquivo da apresentação está disponível para download em http://bit.ly/1TvhIGH
A própria revista da SABESP já trouxe em 2001 a capa: “O paradoxo das enchentes e da falta de água em São Paulo”. A visão sistêmica e regionalizada dos problemas como o artigo propõe é o caminho para chegar a soluções consistentes, sem gastar em grandes obras e – ainda mais importante – envolver a população.
Uma das propostas que merece discussão é diminuir a taxa de esgoto e instaurar a taxa de drenagem, para que quem libera mais água do seu telhado pague mais porque o volume é muito maior, o que é mais justo. Uma residência pagaria muito menos do que uma fábrica ou supermercado. Em ambos os casos, há como isentar-se desta taxa com telhado verde, pisos permeáveis e cisterna para aproveitamento da água de chuva.
Quando eu nacionalizei em 2000 com colegas tecnologia alemã de filtragem, quase todos riram de mim, mas hoje sabemos que a água de dentro, de perto, como a energia solar, deve fazer parte de qualquer chance de tornar a cidade mais resiliente.