Trinta e três bairros de São Paulo, entre eles Morumbi, Vila Mariana, Santo Amaro e Ipiranga, ainda despejam parte de seu esgoto no Rio Tietê. Eles não têm a rede das casas ligada aos coletores-tronco que levam os dejetos para estações de tratamento. Também fazem parte da lista Jabaquara, Aricanduva e Casa Verde. Na Região Metropolitana de São Paulo, 16 cidades apresentam o mesmo problema.
São ao menos 3,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo sem esgoto tratado. O número se refere apenas aos 34 municípios da região atendidos pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). Em outras cinco cidades, o serviço fica a cargo de empresas municipais.
As estações de tratamento já existem. O governo estadual promete construir, nos próximos cinco anos, 768 quilômetros de sistema coletor de esgoto, a tubulação que recebe os dejetos das casas e leva para o tratamento.
Desse total, 105 quilômetros estão em obra na capital e nove cidades da Grande São Paulo. A instalação de outros 662 quilômetros está em licitação, que deve ser concluída em dezembro. Eles atenderão os bairros da capital ainda sem rede coletora e outros 16 municípios da Grande SP. Até hoje, 190 quilômetros já foram executados em parte de 62 bairros da capital e cinco municípios da área metropolitana.
Fase 3. O plano integra a fase 3 do Projeto Tietê, iniciado há 18 anos e que já consumiu mais de R$ 3 bilhões. Os 958 quilômetros de redes coletoras vão se integrar às já existentes, com 18 mil quilômetros de extensão. Parece ser um número grande, mas é insuficiente diante da gravidade do problema de poluição das águas dos rios e mananciais da Grande São Paulo.
Hoje, apenas 85% do esgoto da Região Metropolitana é coletado. Isso equivale a jogar nos rios e represas cerca de 2.550 litros por segundo de dejetos in natura. E dos 14.450 l/s coletados, apenas 10.115 l/s são tratados. O restante é despejado nos rios por falta de coletores-tronco. Em um dia, 596,5 milhões de litros de esgoto são despejados nos córregos e rios da Grande São Paulo, indo parar no Rio Tietê. É o mesmo que esvaziar 238,6 piscinas olímpicas de sujeira pura no principal rio do Estado.
Há quem discorde dos números da Sabesp sobre o esgoto gerado pelos mais de 20 milhões de habitantes da Grande São Paulo. O engenheiro Júlio César Cerqueira Neto, ex-presidente do Comitê da Bacia do Alto Tietê, diz que são produzidos 65 mil l/s de esgotos sanitários. “Então, mais de 50 mil l/s de esgoto contribuem para poluir os rios.”
A poluição das águas por esgoto é um problema de saúde pública. Os esgotos domésticos têm bactérias que causam cólera, hepatite infecciosa, disenteria, micoses, conjuntivites, otites e febre tifoide, segundo especialistas em saúde.
Contrato. Até o final do mês, a Sabesp deve assinar contrato de novo financiamento no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no valor de US$ 600 milhões para a terceira etapa do Projeto Tietê. Outros US$ 200 milhões dos cofres estaduais também serão investidos. As tubulações levarão parte do esgoto para as cinco estações de tratamento: ABC, Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano. Juntas, elas têm capacidade de tratar quase 16 mil l/s.
Segundo o governo estadual, no fim da terceira etapa, em 2015, 87% da população da Grande São Paulo terá coleta de esgoto e 84% desse montante será tratado. Os 958 quilômetros de coletores-tronco deverão custar R$ 2,04 bilhões.
Lá tem…
Paris, França
O projeto de limpeza do Rio Sena, em Paris, durou mais de 70 anos. Ele recebia parte do esgoto doméstico, como em São Paulo. Mas o rio francês apresenta vazão de 50 mil litros por segundo – aqui, chega-se a 34 mil l/s.
Seul, Coreia do Sul
O Cheonggyecheon dividia a cidade de Seul ao meio e foi canalizado em 1978. A prefeitura construiu um “Minhocão” sobre o rio. Nesta década, as pistas foram demolidas, a região revitalizada, as águas despoluídas e o local hoje é utilizado para lazer.
– Projeto Tietê
1ª fase (1992 a 1998)
Com verba de US$ 1,1 bilhão, incluiu a construção de três Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs): ABC, São Miguel e Parque Novo Mundo. Além de 1,8 mil km de coletoras-tronco, interceptores e redes coletoras. Ampliou a coleta para 1 milhão de moradores – índices passaram de 63% a 80%. Já os de tratamento subiram de 20% a 62%.
2ª fase (1998 a 2009)
Com verba de US$ 400 milhões, atendeu mais de 1 milhão de pessoas, com 1,6 mil km de tubulações e foco no Rio Pinheiros. Os índices de coleta passaram de 80% para 84% e os de tratamento, de 62% para 70%.
3ª fase (2010 a 2015)
Com verba de US$ 800 milhões, compreende a construção de 958 km de coletores-tronco e interceptores. Ampliará a capacidade de tratamento em 7,4 mil litros por segundo. No final, estima-se que atenderá 87% da população.
4ª fase (2015 a 2018)
Com verba indefinida, pretende universalizar a coleta e o tratamento de esgoto na Grande SP. Além de atender 3 milhões de pessoas que habitam regiões invadidas e áreas irregulares.