A cooperativa é formada por extrativistas de castanha-do-pará, a maioria deles comunitários da Vila São Francisco, na cidade de Laranjal do Jari, Amapá. Situada em meio a mata, à beira do Rio Iratapuru e sobre um terreno raso, no qual se encontram rochas a cerca de 1 metro abaixo do nível do solo, a nova indústria de beneficiamento de castanhas ofereceu um desafio de demandar infraestrutura de escala industrial, de natureza sensível, e com infraestrutura local bastante precária.

A área impermeável é grande: um telhado de quase 3.800 m² e mais de 1.100 m² de pisos. Como dar destino produtivo à todo o volume de água de chuva produzido pelas áreas impermeáveis, oferecendo ainda um impacto positivo ao local? Como integrar estes volumes à necessidade de água de qualidade elevada para consumo industrial, lidando ainda com a geração de águas servidas (cinzas e pretas), bem como de água quente produzida pela caldeira, em temperatura de 80ºC?

O projeto prevê a captação e direcionamento de toda água de chuva produzida pelas superfícies impermeáveis à um conjunto de reservatórios de detenção, que liberam a água lentamente para um processo de purificação em wetlands (jardins filtrantes), onde também são recebidas águas cinzas pré-tratadas, para posterior armazenamento no reservatório de água tratada. Todo o excedente é conduzido por gravidade para uma bacia de infiltração, onde recarrega o lençol freático, cuja água é posteriormente captada em uma barragem subterrânea, atendendo a maior parte da demanda industrial.

• Construção de médio porte mas de alta demanda de infraestrutura em meio a uma área de natureza sensível, exigindo engenhosidade e simplicidade de forma a eliminar os impactos negativos, transformando-os em vetores de ampliação de benefícios ambientais;
• Todo o processo de armazenamento de água de chuva, assim como seu tratamento e das águas servidas foi feito integrado à arquitetura do local, formando lagos e jardins funcionais que embelezam e harmonizam a paisagem, e pontualmente ainda produzem frutos para consumo da comunidade local;
• O sistema acolhe água quente do processo produtivo (+ de 80ºC) que poderia se transformar em um grave problema ambiental local, direcionando-a a tanques de armazenamento e purificação, reintegrando-a em novo ciclo produtivo para uso industrial;
• Cerca de 60% da demanda de água para atividades industriais é abastecida exclusivamente com a água de chuva e água de reuso;
• Nos momentos de chuvas intensas, frequentes na região, o volume de água que cai sobre os telhados e pisos impermeáveis é grande e tem alta vazão. Todo este volume, se não fosse bem manejado, poderia levar a problemas graves de erosão de solo e assoreamento do rio Iratapuru, que é meio de transporte, lazer, cultura e alimento para a comunidade. Ao invés disso a água é acolhida, filtrada, aproveitada, e tem o excedente do sistema de captação destinado para infiltração oferecendo recarga para a nova barragem subterrânea, oferecendo uma fonte de abastecimento complementar.

Coordenação técnica: Guilherme N. Castagna
Equipe: Guilherme N. Castagna, Jéssica Dias, Miguel Pereira e Kelly Francelina
Consultoria em Wetlands: Cristiano Budreckas (Hidrobotânica)
Desenho Ilustrativo: Fefa Nigro
Projeto de Arquitetura: Estúdio Gustavo Utrabo

Apresentação COMARU