O Centro de Resgate e Despetrolização (CRD) de Animais em Araruama (RJ) é um espaço voltado ao acolhimento, tratamento e reabilitação de animais marinhos vitimados por colisões, pesca, poluição ou contaminação por petróleo. 

Para viabilizar seu funcionamento, foi desenvolvido um trabalho que integrou o manejo de água de chuva, quer para o aproveitamento em cisternas ou por meio de  sistemas de drenagem com Soluções baseadas na Natureza (SbN), e o projeto executivo de tratamento das águas residuais. O grande desafio esteve na complexidade inédita do efluente gerado: uma mistura de águas salinas dos tanques de animais, águas de apoio (banheiros, lavanderia, pias), resíduos de petróleo, medicamentos, antibióticos, reagentes de laboratório, além de óleos, graxas e areia da lavagem de equipamentos. Essa combinação resulta em uma água salobra, heterogênea e altamente variável em volume e composição, exigindo soluções desenhadas sob medida. 

A resposta foi um sistema inovador, composto por pré-tratamento (gradeamento e desarenação), tanque de equalização aerado, Wetlands Franceses de dois estágios, lagoa de polimento com peixes e macrófitas e campo de infiltração plantado, com previsão de reuso não potável. Além de depurar a água, o arranjo cria ambientes vivos que produzem biomassa para compostagem, fibras para artesanato e habitat para a fauna, transformando um passivo em oportunidade de integração com a natureza. 

O diferencial do projeto está em lidar com uma água de complexidade extrema — salobra, com resíduos de petróleo, contaminantes veterinários e hospitalares, alta carga orgânica, areia e graxas — sujeita a variações diárias significativas de volume. Esse panorama, que extrapola os padrões convencionais, exigiu soluções que unem engenharia, ecologia e inovação. 

De um lado, estruturou-se um sistema de abastecimento baseado em fontes locais, no qual o aproveitamento da água de chuva mostrou viabilidade técnica e econômica, garantindo economia e resiliência hídrica, associado ao manejo de água de chuva gerado pela implantação do empreendimento. Em vista da complexidade ambiental do ambiente ao redor, foi necssário elaborar um arranjo de drenagem baseado no uso de SbN´s (como jardins de chuva) para promover a retenção de água de chuva na fonte e a manutenção da recarga do lençol freático. Por fim, o sistema de tratamento foi concebido para transformar efluentes desafiadores em ambientes férteis, que atraem aves e insetos, produzem biomassa e reforçam a biodiversidade por meio de um arranjo apoiado em SbN, com Wetlands Franceses de dois estágios, tanques com peixes e macrófitas e campo de infiltração plantado com espécies da restinga local. Esse desenho não apenas garante tratamento seguro e sustentável, como também gera composto, fibras para artesanato e abrigo para fauna, em um espaço que sediará atividades de educação ambiental e receberá visitantes, incluindo grupos de crianças. 

Mais do que saneamento, o CRD consolida-se como um espaço de inovação ecológica e educação, ampliando seu impacto social e demonstrando que cuidar da água é também cuidar da vida — dos animais resgatados, da comunidade e do ecossistema. 

Cliente e Coordenação Geral do Projeto:  Terramare
Equipe técnica: Isabel Figueiredo, Fernando Nigro, Renato Frenerich, Vanessa M. Rosa e Jéssica Dias
Coordenação do projeto Fluxus: Jéssica Dias e Vanessa M. Rosa
Projeto de Arquitetura e Instalações: Terramare e Art Urbana Arquitetura e Urbanismo – Mauricio Pinheiro
Projeto de Topografia e Terraplanagem: Mauricio Linhares
Ilustrações: Fefa Nigro