Projeto pioneiro: tratamento de águas complexas no Centro de Resgate e Despetrolização de Araruama

Está sendo implantado, no município de Araruama (RJ), o Centro de Resgate e Despetrolização (CRD) de animais, um espaço dedicado ao cuidado de animais marinhos vitimados por diversas situações como colisões, pesca, poluições e, ainda, de contato com derramamentos acidentais de petróleo. Ali, pinguins, tartarugas, golfinhos e outros animais impactados são acolhidos, tratados e devolvidos ao ambiente. Mas, junto com essa nobre missão, surge também um desafio invisível: como desenhar uma infraestrutura integrada para o abastecimento, manejo de água de chuva (drenagem) e tratamento de “esgoto” para um empreendimento localizado próximo à sensível região das lagoas de Araruama, a maior massa de água hipersalina do mundo? E em especial, como manejar a água gerada nesse processo de cuidado com os animais? 

A complexidade da água no CRD 

A melhoria da qualidade da água servida (esgoto) produzido em um local como esse não se assemelha ao de uma clínica veterinária convencional. Trata-se de um cenário singular em complexidade, que reúne diferentes tipos de efluentes: 

  • Águas salinas provenientes dos tanques de animais marinhos; 
  • Águas doces de banheiros, pias, lavanderia e áreas de apoio; 
  • Águas contaminadas com petróleo proveniente da despetrolização dos animais; 
  • Resíduos de medicamentos, antibióticos, limpeza hospitalar e reagentes químicos oriundos da área veterinária, laboratórios e necropsia; 
  • Óleos, graxas e areia carregados da lavagem de equipamentos. 

Essa mistura resulta em uma água salobra, carregada de contaminantes e com alta carga orgânica, de difícil tratamento. Além disso, exige grande flexibilidade no manejo dos volumes diários e na adaptação à variabilidade da composição do esgoto, demandando soluções projetadas sob medida. 

A solução criada pela Fluxus 

Além de uma consultoria aplicada ao desenvolvimento de uma estratégia de manejo integrada de Água, a Fluxus foi responsável pelo desenvolvimento do projeto executivo de tratamento das águas servidas no CRD, concebendo uma solução pioneira e inovadora para dar conta dessa complexidade. O sistema projetado combina: 

  • Pré-tratamento com gradeamento e desarenação; 
  • Tanque de equalização aerado, que homogeniza as águas que chegam e inicia o processo de estabilização; 
  • Wetlands franceses de dois estágios, capazes de tratar o esgoto bruto de forma natural e eficiente; 
  • Lagoas de polimento com macrófitas e peixes, que aprimoram a qualidade final da água e ampliam a biodiversidade do espaço, e produzem biomassa para compostagem e restauração do solo no Centro; 
  • Infiltração em área plantada, que promove a disposição segura e sustentável da água tratada no solo; 
  • Possibilidade de outros reuso futuro, previsto para eventuais necessidades futuras com fins não-potáveis (rega, lavagem de áreas, e descarga de vasos sanitários). 

Além de tratar os efluentes, o arranjo concebido valoriza a biodiversidade local, criando um ambiente que serve de abrigo e alimentação para pássaros e insetos da região. 

Por que nosso projeto é pioneiro? 

O grande diferencial está em lidar com uma água que reúne, ao mesmo tempo, salinidade, contaminantes de origem veterinária, alta carga orgânica, resíduos de petróleo e graxa, e elementos sólidos como areia, além de grandes variações no volume de tratamento.  

O uso dos wetlands franceses de dois estágios, associado às lagoas de macrófitas e infiltração em uma área plantada, mostra que é possível unir tecnologia, natureza e inovação para transformar águas altamente poluídas e complexas em um cenário com plantas, lagos e biodiversidade. 

Mais do que saneamento: cuidado com a vida 

O CRD de Araruama é, ao mesmo tempo, um espaço de resgate e recuperação de animais e um laboratório vivo de soluções sustentáveis para o tratamento de águas. Ele demonstra que mesmo os efluentes mais desafiadores podem ser tratados com responsabilidade e visão ecológica. 

E este laboratório vivo não ficará escondido, o CRD também será um espaço de educação ambiental aberto para visitantes, escolas e crianças. Pois mais do que tratar água, o projeto cuida da vida — a vida de cada animal resgatado, da biodiversidade local e do ecossistema marinho como um todo. 

Ilustração de Fefa Nigro

Você pode encontrar mais informações sobre este projeto, incluindo desenhos ilustrativos, acessando nosso portfólio: https://fluxus.eco.br/portfolio/

Parceiros neste projeto: Instituto BW (@institutobw) e Terramare Consultoria (@terramare_agua)

Acompanhe nossos trabalhos em pelo nosso Intragram: fluxus.eco.br

Até breve!

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Jardins de Chuva em São Paulo: aprendizados, desafios e próximos passos

Os jardins de chuva são uma das Soluções Baseadas na Natureza (SbN) mais promissoras para as cidades. Além de ajudarem a reduzir alagamentos, também oferecem benefícios ambientais e sociais: melhoram a qualidade da água e do ar, ampliam o conforto térmico, acolhem a biodiversidade e criam espaços mais saudáveis para a população.

Mas, afinal, como São Paulo tem implantado essa solução? Quais os avanços, desafios e oportunidades para fortalecer o programa municipal?

Essas foram algumas das perguntas que motivaram o encontro Diálogos VerdeAzul – Drenagem e SbN: Implantação de Jardins de Chuva, promovido pela Prefeitura de São Paulo dentro da programação do Junho Verde. O evento reuniu projetistas, pesquisadores e representantes da gestão pública em um espaço de troca e reflexão coletiva.

Entre os convidados, esteve Guilherme Castagna, da Fluxus Design Ecológico, que trouxe a experiência prática acumulada em projetos de drenagem sustentável e destacou:

  • A ausência de uma estratégia integrada que identifique onde os jardins de chuva são mais eficazes;
  • Os resultados de estudo realizado em 2023 pela FMU e pela SVMA, avaliando impactos sobre alagamentos em microbacias urbanas;
  • Problemas recorrentes de projeto, execução e manutenção observados em campo — como jardins mal localizados, falta de dados adequados e ausência de responsabilidade clara pela manutenção;
  • A necessidade de enxergar os jardins para além da drenagem, reconhecendo seus múltiplos benefícios ambientais e sociais;
  • Experiências inovadoras, como programas de manutenção que envolvem mão de obra social, incluindo ex-moradores de rua.

🌱 O objetivo central foi construir, de forma colaborativa, caminhos para a evolução do programa de Jardins de Chuva em São Paulo, aproximando academia, poder público e projetistas.

👉 Confira a apresentação de Guilherme Castagna no canal do YouTube da Fluxus.
Clique no link e acompanhe suas reflexões sobre os jardins de chuva em São Paulo: https://www.youtube.com/watch?v=BW__umBalGM

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Entrevista: Água e Design Regenerativo

Nesta conversa, Flávia Vivacqua entrevista Guilherme Castagna — engenheiro civil, permacultor e sócio-fundador da Fluxus Design Ecológico, empresa que desenvolve infraestruturas integradas de gestão de água em múltiplas escalas: de comunidades tradicionais e populações em situação de vulnerabilidade a hotéis, fazendas, indústrias e municípios.

Autor de publicações como “Esgoto como fonte de recursos” e “Reidratando a paisagem urbana com água de chuva”, e coautor do Guia Prático para Jardins de Chuva nas Cidades (SOS Mata Atlântica), Guilherme tem se dedicado a projetar sistemas educativos, regenerativos e produtivos, servindo à Água como eixo central de sua atuação.

Vamos refletir sobre como a gestão ecológica da água pode transformar territórios, regenerar paisagens e inspirar uma nova cultura do cuidado.

💬 Faça perguntas ao vivo pelo YouTube. Acesse esse e outros conteúdos na plataforma Escola da Regeneração.

🎙 Entrevista | Água e Design Regenerativo
🗓 Dia 17 de setembro
🕛 Das 10h30 às 11h30
📍 Ao vivo no canal Design Regenerativo no YouTube: https://www.youtube.com/@designregenerativo

Nos vemos em breve!

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