Posts

Fluxus, IPESA e Meridiano Filmes lançam vídeo educativo que ensina comunidades a construírem biodigestores

Produção ensina passo a passo desta tecnologia que trata esgoto e produz biogás

Para dar mais autonomia a comunidades sem atendimento de sistemas de tratamento de esgoto, de áreas rurais e urbanas, o IPESA –  Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais – acaba de lançar  um vídeo educativo em que apresenta em detalhes a metodologia para a construção de biodigestores.

O material, produzido em parceria com a Fluxus Design Ecológico, a Meridiano Filmes e o Instituto Camargo Corrêa, busca democratizar essa tecnologia social acessível e de fácil construção.  “Precisamos de soluções que beneficiem comunidades isoladas, onde mesmo com esforço dos governos o sistema público de tratamento de esgoto não chega. O sistema permite também uma importante economia na compra de gás de cozinha”, diz Paola Samora, presidenta e fundadora do IPESA.

Conforme explicou Paola, o vídeo complementa a cartilha “Manejo da Água” produzida com a mesma finalidade. “Trata-se de um guia prático ilustrado que apresenta formas inteligentes de lidar com a água em nossas moradias, com especial atenção às tecnologias de purificação de águas servidas, que transformam o esgoto em fonte de recursos”, explica.

OS PARCEIROS

O engenheiro e permacultor Guilherme Castagna, da Fluxus Design Ecológico, parceiro do IPESA, foi responsável por desenvolver o sistema no projeto “Manejo da Água” e lembra que o  acesso à água de qualidade para todos continua sendo um desafio no Brasil. “Apesar de 75% do planeta Terra ser constituído por água, 97% dela não pode ser consumida por ser salgada e o restante ou está congelada ou  concentrada no subsolo. Isso significa que os reservatórios que abastecem residências, indústria e agricultura correspondem a menos de 1% do total, sobrando pouco para consumo próprio”, complementa.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), mais de 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água tratada e há uma perda média de 37% no sistema de abastecimento.

Miro de Oliveira, pedreiro capacitado pelo IPESA especialmente para a execução da construção dos biodigestores, também falou da experiência de integrar a equipe: ”Esse sistema é uma das melhores soluções para o tratamento de esgoto onde não há saneamento, porque além de tratar ainda gera biogás, que podemos usar na cozinha. Isso sem falar que, depois do processo de tratamento do esgoto, ainda podemos usar a água como fertilizante. Sem dúvida é o melhor sistema, além do baixo custo. Eu aproveito ao máximo, uso o gás, o fertilizante e o lodo, como adubo”, disse.

E continuou: “A cartilha já era bem completa e assistindo o vídeo com a animação, não tem como errar. Qualquer pessoa consegue construir”, ressalta.

E foi justamente para que qualquer pessoa ou comunidade pudesse acessar e utilizar de maneira fácil, que o vídeo foi produzido no formato Tutorial. “Este vídeo tutorial é a concretização de uma vontade antiga de criar um produto audiovisual que possibilitasse a difusão e o acesso à produção dessas tecnologias de saneamento ecológico. O Brasil é um país gigantesco que tem grande carência de soluções de tratamento de esgoto, principalmente nas áreas rurais. Esperamos que esse seja apenas o primeiro de uma série de vídeos que mostre, na prática, a execução dessas soluções,”, disseCaio Ferraz, diretor da Meridiano Filmes, empresa responsável pela produção do material.

O que é um Biodigestor?

O Biodigestor é um sistema de tratamento de águas servidas que atua por meio da decomposição da matéria orgânica em ambiente anaeróbio (sem oxigênio). Ele gera biogás que pode ser utilizado como fonte de calor, combustível e energia. Os biodigestores podem ser projetados para tratamento de efluentes humanos e animais em larga escala, em zonas urbanas e rurais. Aqui, apresentamos um sistema unifamiliar, projetado para atender as águas servidas de uma família de 04 a 05 pessoas, ou apenas de águas pretas para cerca de 10 pessoas.

Vantagens na construção do equipamento

  • A manutenção do sistema é mínima; 
  • A estrutura é permanente e funciona por equilíbrio hidráulico, não demandando manejo para destinação das águas; 
  • A água sai tratada com diversos micronutrientes disponíveis para a irrigação de frutíferas, otimizando o trabalho de adubação e irrigação em pomares;
  • As plantas produzidas na caixa de compensação devem ser podadas periodicamente. O produto dessa poda é excelente fonte de biomassa para cobertura de solo, compostagem, ou alimentação animal; 
  • Não precisa de reforma na estrutura do banheiro já existente e não demanda alterações no hábito de utilização;
  • O biogás pode ser utilizado de diversos modos, como na utilização do gás convencional de cozinha. Para uma família de 5 pessoas, por exemplo, pode gerar economia de até 4 botijões de gás por ano.

Sobre o Ipesa – O IPESA – Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais – é uma Organização Não Governamental focada na realização de ações que visam à preservação ambiental e o desenvolvimento social sustentável. Tem como missão incentivar a preservação e o uso equilibrado do meio ambiente, bem como a inclusão social, compartilhando conhecimentos e sensibilizando a sociedade sobre novas alternativas de vida mais integradas ao meio e com respeito ao próximo. https://ipesa.org.br/

Compartilhe:

Gestão integrada da água – matéria na revista Infraestrutura

Matéria escrita por Guilherme Castagna para a revista Infraestrutura (editora Pini), edição de Ago/2012, disponível no endereço:

http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/17/gestao-integrada-da-agua-a-descentralizacao-e-integracao-dos-263166-1.aspx

x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

Gestão integrada da água

A descentralização e integração dos sistemas de manejo de água podem viabilizar o uso de tecnologias de baixo impacto, com custo reduzido e alta qualidade no tratamento

Em diversas áreas do conhecimento, cientistas se voltam à natureza como fonte de inspiração para resolução de problemas complexos, compreendendo que os seres e sistemas que estão a nossa volta são resultado de um longo processo de design, afinado em seus mínimos detalhes numa busca de regeneração, evolução e proliferação constante da vida. No que se refere à água, vale lembrar que num simples dia milhares de quilômetros cúbicos são reciclados e purificados utilizando energia gratuita do sol, sendo disponibilizados livremente para todas as formas de vida, tão pura quanto possível.

[Para criar sistemas de manejo de água que envolvam o abastecimento, tratamento de águas residuárias e drenagem de maneira integrada, é fundamental incorporar dois conceitos básicos: descentralização e integração]

Em contraste a essas referências, observamos a realidade da maioria das cidades brasileiras, em que predomina um modelo inadequado, em que o aumento de concentração demográfica e das atividades humanas gera um ciclo vicioso de contaminação dos recursos hídricos locais, e por consequência a busca de volumes cada vez maiores de fontes cada vez mais escassas e distantes, gerando um cenário de crescente escassez.

Para criar sistemas de manejo de água que envolvam o abastecimento, tratamento de águas residuárias e drenagem, pautados nos princípios de funcionamento dos sistemas naturais, é fundamental incorporar dois conceitos básicos: descentralização e integração. Tomemos a dinâmica da água em bacias hidrográficas como ponto de partida. Imagine a ampla rede de nascentes, córregos, riachos e rios formadores de uma determinada bacia, e pense nela como um sistema de abastecimento de água.

Além de trabalhar por gravidade, o comprometimento em termos qualitativos ou quantitativos de uma das “n” ramificações (descentralização) não interfere significativamente na qualidade e no volume total do rio principal (integração), o que confere ao sistema segurança, flexibilidade e resiliência, aspectos fundamentais em sistemas públicos de abastecimento de água.

O princípio de descentralização também pode ser aplicado aos sistemas de tratamento de esgoto, que atendendo núcleos reduzidos podem recorrer a tecnologias de baixo impacto, trabalhando por gravidade (na medida do possível), com custo inferior, e resultados qualitativos muito superiores a sistemas centralizados de grande porte, que também podem contribuir para o abastecimento de consumo não potável local, fortalecendo a integração entre os sistemas. Uma referência prática são as centenas de estações de tratamento de efluentes distribuídas em Berlin.

Os topos de morro são áreas fundamentais para a recarga dos lençóis freáticos, por meio da lenta liberação de água retida na cobertura vegetal e nos interstícios do solo, reduzindo ao mínimo o escoamento superficial de água, colaborando para a manutenção do fluxo de água dos rios e córregos e mantendo desta forma a qualidade e a disponibilidade de água do já referido sistema de abastecimento.

Infraestrutura verde é o nome dado ao conceito que incorpora o planejamento e construção de estruturas de drenagem sustentável que lidam de forma análoga ao sistema natural, retendo água pluvial localmente (descentralização) e potencializando a melhora da qualidade da água para o abastecimento local para fins não potáveis, ou mesmo para o abastecimento de corpos d’água (integração). O desafio de incorporar estes princípios em sistemas já construídos é complexo, mas o resultado compensa o esforço da transição.

Guilherme Castagna engenheiro civil, designer ecológico e coordenador de projetos da Fluxus Design Ecológico.

Compartilhe: